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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram o que mesmo?

Por Ruy Marinho

Um texto bíblico muito bonito que é utilizado por muita gente, tanto em músicas, quanto em pregações está na 1ª carta aos Coríntios 2:9 “mas, como está escrito: nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.”

Geralmente, a interpretação desse versículo é direcionada ao céu, às bênçãos vindouras na eternidade. Alguns neopentecostais adeptos da teologia da prosperidade conseguem ir mais além, afirmando com base nesse versículo que devemos “sonhar” com coisas materiais que jamais sonhamos, pois seria o que Deus preparou para aqueles que o amam.

Embora sabemos que, de fato, Deus preparou a eternidade como algo indescritivelmente maravilhoso para os eleitos, informo àqueles que utilizam este versículo bíblico para compor as suas músicas e pregações que, não é isso que o texto afirma! Analisando o contexto, descobrimos alguns pontos importantes, dos quais nos levarão ao verdadeiro sentido do versículo 9.

Em primeiro lugar, o versículo imediato indica que “o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” já foi relevado! “Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (vs 10, negrito meu). Através do Espírito Santo, temos conhecimento de algo que outrora estava oculto e que agora fora revelado, o que refuta a ideia de ser algo referente ao céu ou algo material que virá a existência. O que é então este conhecimento revelado? Para chegar a resposta, devemos analisar todo o contexto da passagem para entender o que o autor do texto, o Apóstolo Paulo, quis dizer. Portanto, vamos voltar até o verso 1º e analisar até o 8º:

“Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus. Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória. (2Co 2:1-8, negrito meu)

Lendo atentamente o contexto, notamos que Paulo está fazendo um contraste entre duas sabedorias: a humana e a de Deus. Quando Paulo pregou o evangelho aos coríntios pessoalmente, ele sabia de um grave problema que estava acontecendo nessa igreja. Havia divisões causadas por conta do culto a personalidades (1Co 1:10-13). Os membros da igreja em Corinto antes de se converterem eram pagãos e amavam a filosofia da época. Eles seguiam a tradição da cidade em ouvir os grandes mestres filósofos que ficavam em praça pública fazendo discursos bonitos, usando frases bem construídas e retóricas elaboradas com bastante eloquência para emocionar a população. Em troca, eles recebiam dinheiro dos ouvintes. Os habitantes de Corinto tinham um interesse doentio em adquirir sabedoria e estavam acostumados a valorizar as pessoas pela capacidade intelectual. Quando eles vieram para a igreja, trouxeram essa prática mundana e as pessoas estavam transferindo aos pregadores cristãos a mesma admiração que eles tinham pelos grandes filósofos da época, ou seja, um verdadeiro culto à personalidade, algo que na igreja é inadmissível e incompatível com a mensagem da Cruz.

Consciente de que a base da fé cristã não se baseia em argumentos filosóficos, Paulo não utilizou a sabedoria humana (leia-se filosofia da época, retórica com o objetivo de impressionar), mas sim o poder de Deus através do evangelho. Apesar de o Apóstolo ter sido uma pessoa culta, com três cidadanias e grande conhecedor da literatura e filosofia da época (At 17:17 e 28, 19:8, Tt 1:12 etc.), ele sabia que se usasse a sua sabedoria para persuadi-los sobre o evangelho, com certeza os coríntios se apoiariam nisso e fariam também um grande “fã-clube” paulino. Por isso, sua mensagem aos coríntios foi exclusivamente a pregação do evangelho da Cruz.

Esta sabedoria de Deus que é Jesus Cristo só pode ser compreendida através da iluminação do Espírito Santo. Ela não pode ser percebida pelo mundo, caso contrário, não teriam crucificado a Cristo (vs 8). Por isso, quem provoca divisões por cultuar personalidades é porque não é espiritual, mas carnal, considerado criança em Cristo (1Co 3:1-9), pois não compreendeu o mistério do evangelho da Cruz. A palavra “mistério” no N.T. grego (mysterion) traz o sentido de algo que está sendo revelado. Deus se revela aos que d’Ele se aproximam em Cristo. O conhecimento de Deus é misterioso no sentido de que o homem natural, agindo por suas próprias faculdades, não pode recebê-lo[1]. Somente os eleitos de Deus possuem esse entendimento (Mc 4:11, Rm 11:25, Cl 1:26), quem tem o Espírito, tem este mistério revelado em seu coração!

É este o raciocínio de Paulo dentro do contexto. A sabedoria de Deus em mistério que o apóstolo está falando (vs 7) é exatamente o evangelho que estava oculto desde a eternidade e fora revelado através do Espírito Santo. No verso 9, “o que Deus preparou para aqueles que o amam” é a obra da salvação através de Jesus Cristo, são as riquezas do evangelho. No contexto amplo sobre o assunto, encontramos em Efésios 3:8-9 outra afirmação do apóstolo Paulo sobre esta verdade: “A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas” (negrito meu).

Após esta análise, percebemos o perigo de interpretar a Bíblia de forma alegórica, extrair algo que o texto em si não diz é um erro grave! Não podemos ir além do que está escrito e devemos sempre condicionar a leitura da Bíblia dentro do contexto da passagem, é o texto bíblico que deve nos dar o sentido da leitura e não o contrário. Somente assim, compreenderemos corretamente o que o autor quis dizer, podendo então aplicar a passagem bíblica para nós em sua exata significância.

Caro leitor, quando você ouvir novamente alguém cantar ou pregar que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram”, procure analisar se tal citação está dentro do contexto bíblico correto. Aos compositores musicais, vale ressaltar a importância da análise teológica de suas letras. Da mesma forma, os pregadores devem ter o mesmo cuidado. Para estes, é altamente recomendável à pregação da Palavra de Deus de forma expositiva, pois a mesma não permite que o pregador vá além do que está escrito, protegendo o texto bíblico de alegorias isoladas, além de expor a mensagem bíblica de forma correta e literal [2]. Como Calvino afirmou certa vez: “O verdadeiro significado das Escrituras é aquele que é natural e óbvio” [3].

Sola Scriptura!
Ruy Marinho
Fonte: www.napec.org

Notas

[1] O Novo Comentário da Bíblia, F. Davidson. Ed. Vida Nova, pág.1195.

[2] Para saber mais sobre a pregação expositiva, veja uma seleção de excelentes artigos aqui!

[3] Citado em: A arte expositiva de João Calvino – Steven J. Lawson. Editora Fiel, 2008, p. 72, de: PARKER, T.H.L. Calvin’s New Testament Commentaries. Grand Rapids, Ml:Eerdmans publishing Co, 1971. p.50.


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