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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Chega de prometer bênção

Por: Ricardo Gondim

Chega de prometer bênção. Não dá mais para aguentar tanta promessa de bênção. Como continuar ouvindo pastores a distribuir riqueza, felicidade e proteção divina em cada culto? Milagres, segundo o que dizem, chegam para todos, aos borbotões. Alcançar patamares superiores por meio de um benefício divino tornou-se quase uma obsessão. Evangélicos no Brasil, principalmente, ganharam uma voracidade incrível por socorros vindos do além. Promete-se tanta riqueza, tanta saúde física e tanto bem estar que, pelo número de campanhas de oração, o país já devia ter melhorado em vários índices de qualidade de vida. Pastores produzem tantas maravilhas que eles mesmos ficam sob suspeita. Já daria para esperar maior distribuição da renda nacional; e quem sabe, menos fila nos hospitais...

Chega de prometer bênção. A espiritualidade cristã com suas orações, ritos e expectativas não gira em torno da gula de receber benefícios celestiais. A ênfase dos evangelhos não se resume a um só tema. Jesus lembrou os primeiros discípulos que antes deles se preocuparem em salvar a vida, precisariam estar dispostos a perdê-la (Marcos 8:35). A grandeza de uma causa não é determinada pelo que seus seguidores ganham ao segui-la, mas pelo preço que eles se dispõem a pagar por ela.

Chega de prometer bênção. Os auditórios lotados de pessoas ávidas por receber uma vantagem sobre os demais favorecem egocentrismo. Há pouco vi um adesivo no vidro traseiro de um carro que dizia: “Presente de Deus”. Pensei, imediatamente: Por que Deus se mobilizaria para presentear apenas um dos seus apaniguados, mas não se incomoda em dar transporte público de qualidade para milhões de outras pessoas? Avidez espiritual cria o ciclo vicioso de quanto mais alguém promete, mais tem gente querendo receber. E essa roda não para nunca. O salmo 106 denuncia o comportamento dos judeus no tempo da libertação do cativeiro egípcio. Depois de um livramento, o povo parecia não se saciar. A cada sinal, cobrava mais uma intervenção sobrenatural. O fascínio pela próxima intervenção divina transformou-se em cobiça. O versículo 15 trás uma dura sentença: "Deus concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma”.

Chega de prometer bênção. A Bíblia não pode ser encolhida a um estojo repleto de afirmações otimistas. Para legitimar o discurso ufanista e prático, a maioria dos pastores cita textos convenientemente sacados do Antigo Testamento; servem apenas as promessas espetaculares do período anterior ao exílio. Alguns chegam a dizer que o Eclesiastes, com sua abordagem crua, não devia sequer constar entre os livros sagrados. Esses sermões, que procuram enfatizar bênçãos, deixam de lado textos contundentes do Novo Testamento. Em muitos, os cristãos são convocados a enfrentar um mundo violento e doloroso. Jesus não dourou a pílula para os que ousavam segui-lo. Ele jamais encobriu a verdade ao advertir: "No mundo, vocês vão passar por aflições" (João 16:33). Paulo também lembrou os primeiros cristãos que eles não podiam fantasiar que viveriam numa redoma de prosperidade: "E, tendo anunciado o Evangelho naquela cidade e feito muito discípulos, voltaram… fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, por meio de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus (Atos 14:21-22). O Apocalipse deixou claro que era preciso coragem: "Não tenha medo das coisas que você terá de sofrer” (Apocalipse 2:10).

Chega de prometer bênção. Na narrativa sobre a tentação de Jesus (Mateus 4) quem se obriga verbalmente a dar tudo, se for adorado, é o diabo. A espiritualidade judaico-cristã não se estabeleceu na lógica do utilitarismo. Deus não busca relacionamento baseado naquilo que ele pode dar. Todo o amor só se estabelece na gratuidade, e em admiração mútua – inclusive o divino. No livro de Jó, Satanás fez uma acusação gravíssima contra Deus. O acusador tentou dizer que Deus só é amado porque suborna os filhos: "Porventura, Jó teme a Deus de graça?" (Jó 1:9). A narrativa poética do livro ensina que, de fato, o Senhor não era amado por suas inúmeras bênçãos sobre a vida e a família de Jó.

Os milagres carregam em si uma terrível consequência, condicionam a fé à comodidade e ao proveito. O ladrão da cruz pediu um derradeiro milagre – seguramente necessário – em proveito próprio. Se saísse daquela condição, ele teria uma prova de que Jesus era de fato o filho de Deus. O ladrão condicionou a fé a um salvamento pessoal. Crer seria uma espécie de gorjeta que o mau ladrão devolveria aos pés de Jesus, caso escapasse da morte. Jesus não lhe dá ouvidos. Se, na derradeira hora, ele não percebesse o maior de todos os milagres – Deus morrendo numa cruz – um alívio temporário não bastaria para lhe convencer de nada.

Chega de prometer bênção. A virtude cristã que se deve buscar prioritariamente é a justiça. No Sermão da Montanha, só os que têm fome e sede de justiça serão fartos (Mateus 5:6). Quando o cristianismo destaca a promoção da justiça, todas as demais bênçãos se tornam secundárias (Mateus 6:33). Aliás, não existe pregação legitimamente evangélica sem a busca do que chamamos de liberdade, direito, gentileza, solidariedade. A vida. O reino de Deus não é comida, nem bebida, mas justiça e paz e alegria no Espírito Santo (Romanos 14:1).

Quem alardeia milagre é charlatão, mero propagandista de um produto falsificado. Antes de saírem à cata de privilégios, os crentes deviam lutar para que se cumpra na vida deles, Isaías 61:3: A fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória.

Soli Deo Gloria


Pr. Ricardo Gondim
Fonte: www.ricardogondim.com.br

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